Fado e religião

«Não sei se canto se rezo» é uma expressão proferida pela fadista Argentina Santos no documentário que Ivan Dias sobre ela realizou em 2011.

Esta afirmação dá o mote ao projeto de investigação de Cátia Tuna, desenvolvido no âmbito do doutoramento em História e Cultura das Religiões, vencedor da 22.ª edição do Prémio Fundação Mário Soares - Fundação EDP.

Realizada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tendo como instituição de acolhimento o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e orientada por António Matos Ferreira (CEHR-UCP) e Tiago Pires Marques (CEHR-UCP; CES-UC), esta investigação estuda as «ambivalências culturais e religiosas do fado» entre 1926 e 1945.

Trata-se do período em que se concretiza a profissionalização deste género musical, que assim desancora de um ambiente de boémia preponderantemente masculina, citadina e por vezes clandestina passando, num crescimento pautado por uma certa oscilação entre a afirmação e a (auto)vigilância, para um contexto de espetáculo, de vedetas, de difusão e de assunção cultural.

Para reconhecer as características de religiosidade nas biografias dos praticantes de fado, na poética fadista e nos espaços e dinâmicas associativas que o género musical suscitou, foram identificados e trabalhados diversos materiais e conteúdos de inegável valor histórico e patrimonial.

São esses conteúdos que se disponibilizam neste portal promovido pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso, tendo como objetivo divulgá-los a um público mais vasto: aos investigadores que assumem o fado como objeto dos seus estudos ou cujas pesquisas beneficiem do contacto com este universo cultural, mas também aos praticantes e apreciadores de fado.

Partilhamos a memória das pessoas do fado, dos seus lugares, grupos e de alguns dos poemas que escreveram, cantaram ou escutaram. Procura-se, assim, mapear as suas convicções, as suas pertenças religiosas e a sua espiritualidade.

O portal “Fado e Religião” traduz o compromisso e a estratégia da Fundação Mário Soares e Maria Barroso no sentido de impulsionar o acesso aberto ao conhecimento e à herança cultural, contribuindo para uma melhor compreensão do Portugal Contemporâneo.